Locomotiva será revitalizada em Porto Velho
A tradicional locomotiva 18, da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré (EFMM), deve voltar a circular dentro do complexo no próximo dia 2 de outubro, durante a festa de aniversário de Porto Velho.
A informação foi confirmada nesta quarta-feira (24) pelo prefeito Léo Moraes à Rede Amazônica. Segundo o prefeito, a Maria Fumaça vai percorrer cerca de 40 metros até o pátio central.
Após passar por ajustes, a locomotiva poderá funcionar em segurança, mas ainda sem transportar passageiros. "A gente está aqui na expectativa, ao mesmo tempo com certa apreensão, mas com otimismo de que a nossa Maria Fumaça sair daqui não somente a pitar, não somente sair a fumaça pela caldeira, mas se deslocar até o pátio central, que eu acredito ser o ápice, o fato mais importante da celebração dos 111 anos da nossa cidade", disse. A reativação da máquina faz parte de um projeto da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF), iniciado em maio deste ano.
O trabalho contou com profissionais de outros estados e com peças trazidas de diferentes regiões do país. De acordo com o engenheiro mecânico Marlon Ilg, presidente da ABPF, várias peças precisaram ser refeitas porque haviam sido furtadas.
Ele explicou que o maior desafio foi organizar o cronograma em pouco tempo, mas garantiu que o trem estará de volta em funcionamento. "A gente precisou fabricar peças do zero e montar um cronograma apertado, mas em 40 dias conseguimos avançar e temos confiança de que no dia 2 a locomotiva vai estar funcionando." A circulação completa vai demorar? Estrada de Ferro Madeira Mamoré (EFMM) em Porto Velho Leandro Morais O engenheiro mecânico Marlon Ilg explicou ao g1 que enquanto a locomotiva 18 é restaurada para operar de forma limitada, a locomotiva 50 será enviada para uma oficina especializada em Santa Catarina.
O objetivo é que ela seja totalmente recuperada e volte a puxar vagões com passageiros pelos trilhos históricos da ferrovia. Esse plano, no entanto, depende de várias autorizações, como licença ambiental e liberação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), já que o trecho até Santo Antônio também precisará ser restaurado. "Na segunda na sequência do planejamento a locomotiva 50 deverá ser encaminhada para uma oficina especializada, onde será feita toda a restauração para ela poder circular com passageiros e ao mesmo tempo também vai ser viabilizado a recuperação do trecho ferroviário", ressaltou. O retorno da locomotiva é visto como uma forma de valorizar o patrimônio histórico da capital e também como uma aposta no turismo cultural, um setor que pode ganhar fôlego com o charme das antigas ferrovias. Trilhos da EFMM Os trilhos da EFMM tinham mais de 360 km de extensão e ligavam os portos de Santo Antônio do rio Madeira, em Porto Velho, ao de Guajará-Mirim, no rio Mamoré, na fronteira com a Bolívia.
Eles praticamente não existem mais. Complexo da EFMM em Porto Velho Arte g1 Após ser inaugurada, em 1912, a EFMM deu lucro por somente dois anos.
Depois disso, ela entrou em declínio devido à queda vertiginosa da participação brasileira no mercado da borracha.
Isso porque a borracha asiática entrou na concorrência e afetou consideravelmente a exportação brasileira. Após 54 anos de funcionamento, a estrada de ferro foi completamente desativada e o escoamento da produção passou a ser feito por uma rodovia, a BR-364 (os trilhos e a rodovia ficam em trechos distintos). Segundo o historiado Célio Leandro, após a desativação da EFMM na década de 1970, cerca de nove locomotivas foram deixadas nos trilhos que ligavam Porto Velho a Guajará-Mirim, próximo do atual cemitério da Candelária.
O local é conhecido como "Cemitério das Locomotivas". Desde 2006, o complexo da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré é protegido como Patrimônio Cultural Brasileiro por meio do seu tombamento pelo Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan). "Ali pessoas morreram, pessoas trabalharam, pessoas constituíram o que somos hoje.
A sociedade portovelhense é um reflexo de tudo aquilo ali.
Hoje, Porto Velho é uma cidade muito heterogênea, há uma mistura muito grande que nos cerca.
A origem do que somos está ali naquele complexo", aponta Célio. A história da construção da EFMM se tornou enredo para a minissérie "Mad Maria" produzida e exibida pela Rede Globo, baseada no romance homônimo do escritor e cientista social amazonense Márcio Souza. A minissérie mostrou o cotidiano dramático dos homens que trabalharam duro para finalizar a ferrovia, contrastando-o com o glamour e a efervescência da vida dos políticos e empresários da capital, como o americano Percival Farquhar.