O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, errou ao afirmar que era “loucura” atrelar a votação da isenção do Imposto de Renda à anistia, como defendem os bolsonaristas.
Haddad se equivocou.
Não é loucura, é coerência.
Os dois temas são, na verdade, uma agenda só: democracia.
Um estudo mostra que países democráticos taxam os mais ricos, o que vale dizer, a renda, enquanto a regimes mais autocráticos tributam mais pesadamente os pobres, no caso, consumo e serviços.
Caso do Brasil.
“As democracias empoderam os pobres, enquanto as autocracias empoderem os ricos”, resume o presidente do Sindicato dos Auditores Fiscais, Dão Real Pereira dos Santos. A afirmação é baseada numa nota técnica elaborada pelo Observatório Brasileiro do Sistema Tributário.
“A promoção de justiça fiscal e o aumento da tributação das rendas dos mais ricos são expedientes que promovem o regime democrático”, afirma o estudo. Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falou sobre atrelar IR a projeto de dosimetria no último sábado, dia 27 Diogo Zacarias/MF O Brasil, aponta a nota, tributa a renda em níveis consideravelmente inferiores aos outros países da OCDE. “A investida contra as instituições do Estado Democrático de Direito tende a enfraquecer um sistema tributário orientado à equidade tributária”, conclui. Portanto, a demora da Câmara em anistiar os mais pobres do Leão, para conseguir livrar Bolsonaro da condenação por golpe de Estado, está muito longe de ser uma loucura.
Faz parte da mesma lógica de desprezo pela democracia.