Simulação mostra como ocorreu acidente que matou três no Acre há mais de 5 meses
O autônomo Talysson Duarte, que dirigia a caminhonete que atropelou e matou três pessoas na Via Verde, em Rio Branco, em abril deste ano, foi indiciado por homicídio culposo na condução de veículo automotor.
A Polícia Civil concluiu o inquérito e encaminhou o caso para o Ministério Público do Acre (MP-AC).
Nesta terça-feira (30), a polícia apresentou à imprensa e aos famíliares de Macio da Silva, Carpegiane Lopes e Fábio Farias, funcionários da Empresa Estação VIP que morreram na batida, e para a autônoma Raiane Xavier, única sobrevivente, o resultado da perícia e o laudo do acidente.
O g1 entrou em contato com a defesa do motorista e aguarda retorno. 📲 Participe do canal do g1 AC no WhatsApp Com mais de 40 páginas, o laudo elaborado em parceria entre as polícias do Acre e de São Paulo.
Para descobrir toda dinâmica do acidente, as equipes utilizaram drones para mapear a região.
Equipes do Departamento de Polícia Técnico-Científica e o delegado Karlesso Néspoli apresentaram um vídeo com a dinâmica do acidente (veja vídeo completo acima). A simulação mostra o carro de Talysson Duarte descendo a ladeira na Via Verde e as três motocicletas, duas delas com reboque, no sentido contrário.
Em certo momento, a caminhonete de Talysson gira na pista e sai desgovernada derrapando na estrada.
Simulação mostra como caminonete de Talysson Duarte atingiu as vítimas na Via Verde Reprodução Mais abaixo aparecem as motocicletas e outra caminhonete logo atrás.
O veículo bate nas motocicletas e arremessa as vítimas na rodovia.
Sem conseguir desviar de um dos reboques, a caminhonete que vinha logo atrás da motos ainda bate em um deles e para mais a frente.
A perícia não conseguiu detalhar a velocidade que a caminhonete de Talysson seguia no momento da batida.
O delegado Karlesso Néspoli destacou que o fato da perícia não ter apontado a velocidade não interferiu na decisão de o indiciar por homicídio culposo.
"Foi constatado aqui pela polícia, tendo todos os dados, que ele perdeu o controle da caminhonete, deveria ter havido um cuidado maior na condução do veículo, estava numa curva, chovia e ainda era um declive.
Então, deveria ter tido um cuidado maior para que não perdesse o controle.
A velocidade, nós queríamos saber, porque queríamos saber 100% dos dados, mas isso não impossibilitou ter sido indiciado", explicou.
Durante a apresentação dos dados, a família das vítimas questionaram os resultados e reclamaram da demora da conclusão.
O delegado ressaltou ainda que o veículo de Talysson ficou apreendido e foi feita a perícia.
"Está bem claro como que aconteceu, tivemos esse cuidado para mostrar [a dinâmica do acidente], como um desenho animado, para todo mundo entender como aconteceu.
Foi feito um trabalho muito brilhante da polícia, fizeram todos os exames que podiam com as ferramentas que tinham.
Nosso diretor procurou apoio externo, fez diligências complementares", descreveu o delegado.
Carpegiane Lopes, Macio da Silva e Fábio Farias foram vítimas de acidente na Via Verde em abril de 2025 Foto cedida Liberação incorreta Na época do acidente, a Polícia Rodoviária Federal (PRF-AC) liberou Talysson Duarte do local do acidente sob a alegação de que havia risco à integridade dele por conta da revolta dos colegas de profissão das vítimas.
A decisão causou revolta nas redes sociais e críticas à polícia. A PRF-AC chegou a negar favorecimento a condutor liberado e afirmou que o motorista fez o teste do bafômetro, que deu negativo, e apresentou a documentação necessária.
A corporação contestou ainda a alegação de que o suspeito foi protegido por supostamente ser integrante de forças de segurança. Talysson prestou depoimento sobre o acidente quase um mês depois.
Na época, a namorada dele, Kaline Santana Matos, de 24 anos, estava na caminhonete no momento da batida e também prestou depoimento.
Talysson Duarte é apontado como o condutor da caminhonete que invadiu a pista contrária atingindo três motocicletas no AC Arquivo pessoal Segundo a defesa de Talysson, na época, a jovem confirmou que o namorado perdeu o controle do veículo e bateu nas motocicletas. Nesta terça, o delegado responsável pelo caso voltou a confirmar que a decisão de liberar Talysson não foi correta.
"O rapaz deveria ter sido conduzido, o delegado que estivesse no plantão deveria ter feito as oitivas e acompanhado o caso.
Porém, essa questão da saída dele não prejudicou a investigação e os dados que obtivemos.
O delegado plantonista ia ouvir ele e liberar.
Ele ia ser liberado de qualquer jeito", confirmou.
'Três vidas' A esposa de Fábio Farias, que morreu após mais de um mês internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Pronto-Socorro de Rio Branco, lamentou que Talysson Duarte não tenha sido preso e disse que as famílias das vítimas ficam desacreditadas na Justiça.
LEIA MAIS: A pedido do MP, perícia usa drone para mapear via e concluir laudo de acidente que matou 3 no Acre Defesa de motorista que matou dois em acidente diz que carro derrapou em pista molhada: 'Está bastante abalado' "O senhor me desculpa, mas sabemo que ele não será preso, vai responder algo e vai ficar por isso mesmo.
Quem perde somos nós, desculpa a exaltação dos familiares, foram três vidas.
Minha filha todos os dias pergunta pelo pai dela, a gente vive com essa dor.
Ele vai responder por um crime e viver tranquilamente como está vivendo", desabafou.
Sobre uma possível prisão, Karlesso destacou que o caso está com a Justiça agora.
"Infelizmente, há leis muito brandas com relação a isso.
O crime em si é um homicídio culposo, sem intenção de matar.
Diferente, normalmente, de um racha ou de alguma situação em que a pessoa queira isso.
A Justiça não vai determinar nenhuma prisão preventiva, ainda mais pra pessoa que não tenha antecedente algum.
Mas, futuramente em uma condenação, vamos ver o que o juiz vai decidir", concluiu.
Famílias de vítimas que morreram em acidente reclamaram da investigação VÍDEO: g1